Seja ficção, seja documentário, fazer um filme é realizar um sonho, dar vida a uma ideia, tornar real algo que habitava apenas a sua imaginação. A história do filme Caspar Erich Stemmer começa pela curiosidade despertada em conversas sobre as origens do Polo de Tecnologia de Florianópolis, enquanto realizávamos o filme Ilha Inovação Sustentável e ouviamos diversos engenheiros e empresários se referirem a Stemmer como se fosse quase um mito.
Comecei a procurar informações sobre ele e encontrei apenas um livro escrito por Arno Blass. Conversei com as pessoas que trabalharam e conviveram com ele e os relatos giravam geralmente em torno de sua atuação profissional. Falei com seus três filhos e fiquei conhecendo como era a sua vida em família. Encontrei algumas fotos, uma fita cassete com uma entrevista feita com ele por uma pesquisadora e alguns filmes feitos pela universidade em que ele aparece em algumas cenas. Ele não era uma pessoa vaidosa e não fazia questão de se fazer registrar.
Diante disso, eu me perguntava que filme eu conseguiria fazer com os materiais que eu tinha, como eu contaria a história desse homem, como deveria ser este filme para que ficasse à altura da importância de suas ações e como deixá-lo original e interessante.
Eu costumo buscar inspiração em outros filmes, mergulho em alguns processos criativos, traço algumas estratégias narrativas a partir dos elementos que tenho, fico aberto a sinais e ouço ideias de pessoas que estão próximas a mim. O roteiro costuma nascer um pouco por cada um desses caminhos. No caso do documentário Caspar Erich Stemmer, duas sugestões de profissionais que estavam ao meu lado foram fundamentais. A primeira delas, a sugestão do diretor técnico, Murilo Souza, de convidar o professor Fábio Xavier para conduzir as entrevistas e a segunda, da diretora de produção, Amanda, para fazer uma analogia com a natureza, utilizando como referência o livro A vida Secreta das Árvores, de Peter Wohlleben. Aos poucos nascia o roteiro.
A Equipe
Minhas equipes de filmagem costumam ser pequenas, um operador para cada câmera, uma diretora de produção, uma assistente de direção e um técnico de som. A equipe técnica de cinema é bastante peculiar, pois cada um dos membros é um artista. Mais que operar equipamentos ou executar tarefas administrativas, precisam criar imagens, sons, cenários e contribuir, com suas habilidades e conceitos particulares, na construção de cada cena e do filme como um todo. O papel do diretor, neste sentido, aproxima-se ao de um maestro, aquele que precisa manter cada membro da equipe executando a mesma obra, deixando que cada um coloque a sua energia, o seu conceito, as suas ideias, as suas contribuições estéticas e artísticas, no entanto mantendo a direção, o rumo e corrigindo desvios, quando necessário.
Murilo Souza teve um papel de destaque na realização de Caspar Erich Stemmer. Ele entrou para a Geofilmes na etapa final do documentário Ilha Inovação Sustentável, quando forneceu imagens de Florianópolis gravadas por ele com um drone. Depois ele passou a integrar a equipe do Ilha como designer e ingressou na equipe do Stemmer ainda na fase de projeto. Para o novo filme, ele propôs diversas inovações, como gravar com três câmeras, usar resolução 4k, gravar em S Log2, usar o formato de quadro cinemascope, tentar fazer o áudio em 5.1 e editar o filme com o Davinci Resolve. As propostas eram interessantes, pois representariam mais qualidade técnica, mas representavam também risco, considerando o baixo orçamento do filme e a falta de experiência da equipe com estas configurações tecnológicas.
Após algumas conversas e testes, decidimos investir nas propostas do Murilo, exceto no áudio 5.1, que exigiria mais testes e mais conhecimento, e foi uma decisão acertada. Ele se responsabilizou pela configuração das câmeras, pela captação do áudio, por toda a finalização do filme, principalmente pelo color grading e pela mixagem, e pelo design gráfico do filme.
Os demais membros também tiveram, cada um, a sua importância. A sensibilidade da fotografia de Vitor Hoffmeister e Douglas Sielski, a assistência de direção segura da Isabele Orengo e a produção eficiente da Amanda. Uma equipe harmônica que trabalhou unida durante aproximadamente dois meses, no segundo semestre de 2019.
As gravações
Encontrar os entrevistados e gravá-los é sempre um momento muito especial. Optei por gravar não apenas seus depoimentos em locais especiais, preferencialmente fora de seus ambientes de trabalho, mas também apresentá-los em seus espaços pessoais, como suas casas, oficinas, jardins ou terrenos, fazendo o que gostam e valorizando suas vidas enquanto representantes daquele sobre quem falam.
O filme usa como linha de condução dramática a pesquisa fictícia realizada por Fábio Xavier, um jovem professor do curso de engenharia da UFSC, com o auxílio de alguns de seus alunos. Para ressaltar a importância da universidade na vida do ex-reitor, gravamos diversas cenas nos laboratórios da UFSC e em seus espaços externos e, além disso, registramos algumas cenas em florestas, para dar destaque àquilo que Stemmer tanto amava, as árvores.
Roteiro final e edição
A edição foi feita no difícil ano de 2020, durante a pandemia. A primeira etapa foi a decupagem das entrevistas, assistir cada uma, listando e classificando os assuntos abordados por cada entrevistado em uma planilha do excel.
Esta planilha permitiu uma visão geral de todo o conteúdo das entrevistas. A partir desta organização tornou-se mais fácil construir uma linha narrativa, dispondo os assuntos em uma determinada sequência. Aos poucos, surgia um novo roteiro, um pouco diferente daquele inicial.
Antes de ir para a timeline do Davinci e começar a edição, eu decidi construir uma espécie de quebra cabeças com todas as peças que eu tinha. Eu separei fotogramas de cada cena e as levei para uma tela branca onde eu podia dispô-las da maneira que eu desejasse, juntamente com fotos, textos e anotações. Para essa tarefa eu usei um software chamado Miro. Este procedimento permitia uma visão geral e facilmente eu podia mudar cenas de lugar, inserir ou eliminar elementos, comparar tamanhos de cena, sentir o ritmo do filme e muito mais.
Finalmente, eu fui para o Davinci, colocar em prática o que eu tinha planejado na tela do Miro. Esta é a fase em que as peças são encaixadas e que exige uma série de técnicas e recursos para que as falas fiquem fluidas, façam sentido, tenham coerência, se mantenham naturais e façam o filme avançar, apesar dos cortes e intervenções. A timeline aos poucos vai tornando-se extensa, complexa e com várias camadas de imagem, de textos e de áudios.
Finalização
Terminada a edição, chega o momento de ajustar todos os detalhes, as transições entre planos e cenas, a equalização de todos os áudios para que se mantenha o mesmo volume e sem ruídos e o ajuste das cores de cada cena, para manter o mesmo nível de contraste, tonalidade e saturação o que confere ao filme uma identidade visual.
Lançamento
O filme ficou pronto em 2021 e decidimos lançá-lo no youtube, no dia 22 de junho, data de nascimento de Caspar Erich Stemmer, às 20h. Para a divulgação, preparamos um trailer que pode ser assistido neste link youtu.be/A7XpCfouwHc e convidamos você para a estreia youtu.be/cHYhgfnTG9k .
Para saber mais, visite o site charlescesconetto.com/stemmer/